Lucas Seco, diretor do Colégio Anglo Chácara Santo Antônio, chama a atenção dos educadores para a importância da resiliência emocional
Lucas Seco*
O ano de 2022 começou repleto de expectativas e com a esperança de uma possível normalização — se assim podemos dizer depois da transformação trazida por 2020 e 2021 — da nossa área de educação. E dessa maneira tem sido, guardadas as devidas proporções na comparação com o período pré-pandemia: estamos vivendo uma retomada das atividades presenciais em sala de aula, com novos desafios e um reaprendizado diário, tanto dos educadores quanto dos educandos, incluindo nessa conta seus respectivos familiares.
Pesquisas demonstram que essa readequação ocorre em ambos os setores, público e privado. De acordo com estudo realizado pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Itaú Social, após dois anos de pandemia, mais de 80% das redes municipais de educação estão com aulas totalmente presenciais e mais de 90% oferecem atividades presenciais cinco vezes por semana. Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), mais de 90% das escolas particulares de São Paulo retomaram o calendário presencial.
Saúde mental em debate
Entretanto, faz-se importante entender como essas crianças e adolescentes retornaram às atividades escolares. Ninguém é o mesmo depois de tantas águas. Medidas tomadas às pressas — umas delas emergenciais como o uso de plataformas de vídeo para as classes, outras de fato mais duradouras, como as avaliações virtuais e remotas — mexeram muito com a mente de todos, talvez até mais com jovens com restritos recursos psicológicos, em geral obtidos com a vivência, para lidar com tais adversidades. O fato é que ainda não se sabe muito sobre consequências.
Um mapeamento feito pela Secretária da Educação do Estado e Instituto Ayrton Senna revelou que 70% dos estudantes avaliados em contexto de pandemia relataram sintomas de depressão e ansiedade. Do grupo, um a cada três afirmou ter dificuldades para conseguir se concentrar na proposta da sala de aula, outros 18,8% relataram se sentir totalmente esgotados e sob pressão, enquanto 18,1% disseram perder o sono por conta das preocupações e 13,6% afirmaram a perda da confiança em si.
Neste cenário, competências socioemocionais como tolerância ao estresse, empatia, autoconfiança, curiosidade para aprender, persistência, entre outras, têm sido ainda mais importantes para gestores, professores, estudantes e famílias atravessarem esse período e pensarem em soluções alternativas para um novo normal. Notamos isso em sala de aula e torna-se crucial desenvolver mais e mais essas capabilidades entre nossos educadores.
Costumo observar que as pessoas dotadas da habilidade da resiliência emocional conseguem lidar com situações adversas com tranquilidade e positividade. Quando confiam em si mesmas e são capazes de gerenciar suas emoções, são menos propensas a se desestabilizar em frente à opinião dos outros, críticas, situações desafiadoras ou aquelas que não estão sob seu controle.
Em outro levantamento, desta vez realizado pela Pearson, empresa mundial de aprendizado, mais de oito mil pessoas de cinco países (Brasil, China, Índia, Reino Unido e Estados Unidos) foram ouvidas. No estudo, 67% dos brasileiros acreditam que as crianças deveriam ser introduzidas em programas de bem-estar e saúde mental nos primeiros anos de vida escolar.
Gestão dos próprios sentimentos
Resiliência emocional está relacionada à capacidade de alguém lidar com as próprias emoções, demonstrando equilíbrio e controle sobre suas reações, como por exemplo raiva, insegurança e ansiedade, sem apresentar mudanças bruscas. Pessoas com maior nível dessa competência confiam mais em suas capacidades para desenvolver tarefas e regular suas emoções.
O estudante dos anos iniciais do Ensino Fundamental encontra-se em processo inicial de desenvolvimento de suas competências socioemocionais. Ele aprende, junto ao processo de escolarização, a conhecer e nomear suas emoções e de seus pares. Sua experiência escolar favorece um nível mais complexo de interações e oportuniza novos aprendizados e percepções acerca das expressões de sentimentos e emoções.
Os desafios estão postos e estamos diante de um contexto desafiador. Cabe a todas as partes envolvidas (educadores, estudantes e familiares) um esforço coletivo para que esse estágio seja atravessado de uma maneira tranquila e construtiva.
*Diretor do Colégio Anglo Chácara Santo Antônio