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Na estreia da Coluna STEAM, Lilian Bacich revela como integrar ciência, arte e tecnologia na educação básica para engajar e transformar

Inicio hoje minha trajetória como colunista do educador21 e agradeço o convite para compartilhar reflexões sobre a articulação entre teoria e prática que fundamentam minhas pesquisas atuais e que se refletem nas ações que realizamos na Tríade Educacional. Nesta coluna, com o apoio das pessoas envolvidas em nossas ações formativas e de produção de conteúdo, vamos explorar formatos que a literatura e a pesquisa, nacional e internacional, apontam como referências inspiradoras para pensar os impactos da abordagem STEAM na educação pública brasileira.

Ao longo da minha trajetória na educação — com mais de 20 anos de atuação em escolas de educação básica — sempre busquei lançar um olhar atento para o papel central do estudante no processo de aprendizagem. Essa perspectiva esteve presente tanto nas minhas aulas quanto nas formações de professores, especialmente durante o período em que atuei na coordenação pedagógica.

A valorização do estudante como sujeito ativo, curioso e investigativo não é recente. O movimento de centralização do aluno no processo de ensino e aprendizagem tem mais de um século de história, impulsionado por educadores como John Dewey, que defendia a aprendizagem pela experiência, e Paulo Freire, cuja pedagogia crítica coloca o estudante como agente transformador da própria realidade. Ambos contribuíram para uma visão de educação que vai além da transmissão de conteúdos, abrangendo valores, competências e a vivência de experiências significativas.

Na última década, diversas tecnologias e metodologias educacionais surgiram como resposta à falta de engajamento e protagonismo dos estudantes. Embora algumas dessas inovações sejam tratadas como meros slogans educacionais, também têm provocado movimentos importantes de reflexão nas práticas pedagógicas. Em muitos contextos, têm impulsionado mudanças nas relações educacionais e incentivado estratégias que favorecem a aprendizagem ativa e o desenvolvimento integral dos estudantes.

STEAM: uma proposta integradora

A abordagem STEAM, um acrônimo para Ciências, Tecnologias, Engenharia, Artes e Matemática, tem se consolidado como uma estratégia educacional com potencial para enfrentar os desafios contemporâneos. Mais do que um conjunto de áreas do conhecimento, trata-se de uma proposta integradora que busca promover uma aprendizagem contextualizada, investigativa e conectada à realidade dos estudantes. Ela favorece o desenvolvimento de competências fundamentais para o século XXI, como criatividade, pensamento crítico, colaboração e comunicação, ao mesmo tempo em que valoriza o papel do humano diante das transformações tecnológicas, sociais e ambientais da atualidade.

Originado nos Estados Unidos como STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), o movimento ganhou novas dimensões com a inclusão das Artes, reconhecendo a importância de processos criativos e do pensamento estético na resolução de problemas complexos. Essa ampliação representa não apenas um reforço curricular, mas uma mudança de paradigma que aproxima ciência e sensibilidade, técnica e ética.

A relevância dessa abordagem e seu potencial transformador nos motivaram, ainda nos primeiros movimentos do tema no Brasil, a organizar a primeira publicação brasileira dedicada à educação STEAM, reunindo autores e pesquisadores que iniciaram seus estudos nesse campo. A obra marcou um passo importante para a consolidação de reflexões e práticas que hoje ganham espaço em escolas e em pesquisas no Brasil e outros países de língua portuguesa, como Moçambique e Angola.

A educação STEAM tem sido adotada por diferentes países como uma resposta estratégica para preparar as novas gerações para os desafios do futuro. Na China, por exemplo, a ênfase está no desenvolvimento de talentos voltados à investigação científica, ao pensamento crítico e à inovação tecnológica. Na Austrália, a National STEM School Education Strategy tem como meta consolidar essas competências em todos os níveis de ensino até 2026. No Reino Unido, políticas específicas buscam ampliar a participação de meninas e mulheres em carreiras STEM, promovendo maior equidade de gênero nas áreas técnico-científicas. Já na União Europeia, a inclusão do “A” no STEM reflete o reconhecimento da importância das Artes e do Design para formar cidadãos criativos, culturalmente sensíveis e capazes de atuar em cenários interdisciplinares.

STEAM no contexto brasileiro

No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas ao longo da educação básica. Alinhada a esse documento, a abordagem STEAM pode ajudar a responder uma das perguntas mais recorrentes entre os estudantes, especialmente no Ensino Médio: “Por que precisamos aprender isso?” Ao conectar os conteúdos escolares a problemas reais e desafiadores, os projetos STEAM tornam a aprendizagem mais significativa e contextualizada.

Para alcançar esse objetivo, esses projetos devem ser planejados com foco claro nos objetivos de aprendizagem e nas competências a serem desenvolvidas. A metodologia da Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) tem se mostrado eficaz nesse contexto, pois estimula nos estudantes a percepção da relevância dos conhecimentos científicos e sua aplicação prática. A integração entre Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática ocorre de maneira inter ou transdisciplinar, contribuindo para uma formação mais completa e conectada aos desafios contemporâneos.

A adoção da abordagem STEAM também exige uma ressignificação do papel do professor, que também apresente um papel central no processo, ao deixar de transmitir conteúdo e passar a desenhar experiências de aprendizagens em que os estudantes possam construir conhecimentos. Os estudantes, por sua vez, são estimulados a assumir uma postura mais ativa, participando de forma protagonista do próprio processo educativo, alinhado ao percurso desenhado por educadores que apoiam uma construção colaborativa e significativa de conhecimentos. Nesse cenário, os recursos digitais, entre eles a Inteligência Artificial, desempenham um papel de suporte e de inspiração, potencializando a colaboração e a resolução de problemas complexos.

Mais do que buscar informações, o uso das tecnologias digitais em projetos STEAM deve estimular a criatividade, a autonomia, o pensamento crítico e a capacidade de tomar decisões apoiadas em pesquisas e em autores que já tenham trilhado percursos semelhantes. A aprendizagem torna-se verdadeiramente transformadora quando os estudantes são desafiados a se engajar intelectualmente com a resolução de problemas, refletir sobre suas próprias práticas e agir com autonomia frente às situações que enfrentam no mundo real.

Ao longo das próximas edições desta coluna, aprofundaremos questões centrais para a implementação da abordagem STEAM na educação básica brasileira. Vamos discutir os desafios e caminhos possíveis para a formação de professores, o planejamento e a execução de projetos inter e transdisciplinares, a recomposição das aprendizagens dentro de uma proposta integrada e significativa. A intenção é abrir espaço para o diálogo entre teoria e prática, compartilhando experiências, reflexões e estratégias que fortaleçam o protagonismo e ampliem as possibilidades de uma educação pública comprometida com o desenvolvimento integral dos estudantes!

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