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Neuroeducador explica como o uso de telas abre caminhos para o letramento das crianças e impacta seus hábitos de leitura

Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um cenário preocupante no que diz respeito ao letramento na educação básica. O letramento, que engloba as habilidades de leitura, de escrita e de compreensão de textos, é fundamental para o desenvolvimento educacional dos estudantes e para a participação ativa deles na sociedade.

Nos Estados Unidos, o Instituto Pew Research comemorou o anúncio de que os “millenials” estavam lendo mais do que a geração dos seus pais. Em solo brasileiro, o último levantamento do Instituto Pró-Livro “Retratos da Leitura no Brasil” (2019) relatou uma alta entre os números de livros lidos por ano (4,00 para 4,96), especialmente entre os mais jovens. Na faixa entre 5-12 anos, houve crescimento de leitores de 67% para 71% das crianças, a maioria lê todos os dias.

No entanto, pesquisas como a PIRLS, recentemente lançada, e o PISA, que mensuraram habilidades mais profundas para além da quantidade de livros e palavras que consomem, mostram que o cenário do Brasil ainda é muito preocupante. No PIRLS, o país ficou na “zona de rebaixamento”, atrás até mesmo de Uzbequistão, Cazaquistão e Kosovo. Já no último PISA (2019), é possível observar a Estônia em primeiro lugar, enquanto o Brasil está na antepenúltima colocação, à frente apenas da Colômbia (por apenas 1 ponto) e da Indonésia.

Fernando Henrique Lino, pesquisador e neuroeducador, afirmou que o hábito de leitura de crianças e adolescentes pode ser considerado um resultado da falta de investimento em políticas públicas efetivas para a melhoria do letramento e o efeito da pandemia na educação.

“O impacto da pandemia afetou profundamente o setor educacional como um todo, inclusive muitos pais e alunos tiveram dificuldades no controle do uso de telas e de estabelecer uma fronteira clara entre o universo digital e a vida real. Mesmo no momento pós-pandêmico, a vida real parece ter diminuído”, disse.

O neuroeducador ainda explica que na Estônia, país que ficou em primeiro lugar no ranking, a inclusão do letramento digital é compulsória no sistema de educação, sendo parte fundamental da estratégia de ensino.

“O país se orgulha em dizer que 2/3 das famílias leem livros para os seus filhos praticamente todas as noites, uma realidade diferente comparada ao Brasil. Com o tempo, é possível avaliar e analisar as consequências desse déficit no letramento na vida dos estudantes”, afirmou Lino.

Pesquisador aponta caminhos para o letramento no país

Dentro desse cenário, existem alguns bons e possíveis caminhos, como a educação integral. Na pesquisa de mestrado realizada por Lino, alunos de escolas de tempo integral (e/ou tempo estendido) tem uma compulsão por telas significativamente menor do que outros alunos (-23%). Segundo o especialista, estamos em um período de transição de uma cultura baseada no letramento tradicional para uma cultura influenciada pelas mídias digitais, com aumento de consumo e informação.

“As crianças que têm acesso a experiências ricas durante a semana acabam tendo menos atração pelo consumo passivo nas telas, tendendo a atividades com gratificação mais longa, como a leitura. Esse excesso de informação não se traduz na formação ou no estímulo a leitores melhores, trata-se de uma questão de quantidade versus qualidade”, explicou o neuroeducador.

A compulsão por telas ocorre por conta do fácil acesso a smartphones e tablets, o que tem levado muitas pessoas, incluindo crianças e adolescentes, a passarem longos períodos imersos em atividades digitais. Como resultado, é possível observar a diminuição do tempo dedicado à leitura de livros e de outros materiais impressos, fundamentais para o desenvolvimento do letramento. Uma alternativa para solucionar essa questão é a Sabedoria Digital, um conjunto de estratégias educacionais para levar a tecnologia para os alunos de maneira monitorada, progressiva e segura para crianças e famílias.

Fenando Henrique Lino relatou que, como um pesquisador que tem contato com escolas, alunos e famílias em diversos contextos sociais, a tecnologia pode ser uma aliada, mas também uma inimiga. “Infelizmente, noto que quando o celular chega nas mãos de uma criança de 10 anos, ao invés de se tornar uma ferramenta de empoderamento do conhecimento, criação e fomento da curiosidade, ela se torna, na maioria das vezes, um catalisador de compulsões e pode ser até uma barreira para a curiosidade infantil.”

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