Estudo nacional do Grupo Rabbit aponta melhora na disciplina e socialização dos alunos, mas revela desafios na comunicação e na fiscalização
Desde a entrada em vigor da Lei Federal nº 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares pelos alunos durante o período escolar, as instituições de ensino têm vivido uma das maiores transformações da última década. A medida, que visa resgatar a concentração e o convívio social, também colocou à prova a capacidade de adaptação das escolas — especialmente na comunicação com estudantes e famílias.
Uma pesquisa nacional realizada pelo Grupo Rabbit, por meio da unidade Explora – Tendências e Evidências, revelou que a implementação da lei teve efeitos imediatos e complexos. Embora 74% dos gestores afirmem ter observado melhora na disciplina dos alunos, 62% relataram tentativas de uso indevido do celular nas primeiras semanas, evidenciando que o processo de mudança depende mais de cultura e diálogo do que de imposição.



GRÁFICOS 1, 2 e 3 – Percentual de escolas que observaram melhora na disciplina (74%), na socialização (80%) e na aprendizagem (70%)
O levantamento, que ouviu líderes de escolas particulares e regulares em todo o país, mostrou ainda que 80% das instituições perceberam maior socialização entre os estudantes e uma redução de cerca de 30% nos casos de bullying. O dado mais simbólico é o apoio docente: 82% dos professores declararam concordar com a proibição, o que tem sido essencial para garantir coerência e autoridade pedagógica.


GRÁFICOS 4 e 5 – Nível de satisfação dos educadores com a proibição (71% satisfeitos)
No entanto, o estudo também expôs fragilidades estruturais: muitas escolas limitaram-se a enviar comunicados formais às famílias, sem desenvolver ações de conscientização ou oferecer atividades alternativas. Como consequência, a adesão à norma se deu mais pela fiscalização do que pela compreensão coletiva, um ponto de atenção para gestores que buscam sustentabilidade a longo prazo.
4 principais tendências reveladas pela pesquisa
O levantamento do Grupo Rabbit vai além das percepções imediatas sobre disciplina e comportamento. Ele aponta mudanças culturais em curso e revela o quanto o tema envolve dimensões emocionais, pedagógicas e institucionais. As respostas dos gestores mostram que, embora a lei tenha trazido benefícios perceptíveis, a convivência entre educação e tecnologia ainda carece de maturidade e equilíbrio.
Um dos achados mais significativos é o descompasso entre escola, aluno e família. Enquanto estudantes tendem a se adaptar ao novo cenário, muitos responsáveis demonstram resistência, o que interfere diretamente na eficácia das medidas adotadas. Outro ponto destacado é o impacto emocional positivo da redução do tempo de tela: a melhora das interações presenciais tem contribuído para o fortalecimento dos vínculos e para o desenvolvimento socioemocional dos alunos.
Confira as principais tendências reveladas pelo levantamento:
1. A política é positiva
- A maioria dos participantes destacou benefícios diretos, como melhora nas relações sociais e aumento da concentração dos alunos.
- 71% dos gestores declararam satisfação com os resultados e 82% dos professores apoiaram a medida.
- As escolas também relataram redução de cyberbullying e maior segurança no ambiente escolar.
2. O problema são os pais, não os alunos
- A resistência vem, em grande parte, das famílias que não respeitam a política institucional.
- Muitos pais continuam enviando mensagens durante o período de aula, dificultando a consolidação da norma.
- Gestores defendem maior alinhamento e diálogo com os responsáveis para garantir coerência educativa.
3. Desafios na fiscalização – o caso do banheiro
- O banheiro foi citado como o principal ponto cego da fiscalização, onde o uso indevido do celular persiste.
- Diretores relatam desgaste entre professores e inspetores na tentativa de controlar as ocorrências.
- Há pedidos por protocolos claros e medidas equilibradas, respeitando a privacidade dos alunos.
4. Nuances e contexto – uso pedagógico e papel docente
- Parte dos gestores sugere flexibilizar a aplicação da lei, permitindo o uso supervisionado para fins educativos.
- Persistem críticas à aplicação desigual da regra, especialmente quando professores continuam usando os aparelhos.
- A maioria defende que a proibição seja complementada por ações de alfabetização digital e ética tecnológica.
Os gestores entrevistados reconhecem, contudo, que a proibição sozinha não resolve o problema. A ausência de uma política de alfabetização digital pode levar a uma visão simplista sobre o uso da tecnologia, transformando o celular em vilão, quando ele também pode ser ferramenta de aprendizado. A conclusão é clara: mais do que proibir, as escolas precisam educar para o uso consciente e responsável dos dispositivos digitais.










