O Educador21 ouviu orientações de educadores e especialistas para ajudar numa volta às aulas mais tranquila para toda a comunidade educacional
Em um ano de volta às aulas acontecendo às vésperas de um feriadão de Carnaval, a retomada do ritmo e da rotina escolar para alguns educadores e estudantes pode ter uma dose extra de dificuldade de readaptação. E isso pode acabar refletindo diretamente na capacidade de aprendizado. Para evitar que a a comunidade escolar precise “pegar no tranco’, o Educador21 ouviu alguns educadores e especialistas do setor para ajudar nessa preparação para o novo ciclo escolar.
Diminuir as ansiedades e a apreensão de todos os envolvidos é ponto pacífico neste assunro. Liane Poggetti, diretora assistente do Colégio Rio Branco Unidade Granja Viana, acedita que a escuta acolhedora e o diálogo aberto são imprescindíveis nesse momento de volta às aula. “Ter muita escuta, olhar atento, ir à escola, procurar saber com as pessoas e os professores como é que a criança está ajudará a mitigar a insegurança comum da época e rastrear possíveis desconfortos, que, se identificados, devem ser reportados à escola para ter acolhimento dos profissionais”, afirmou a educadora.
Juliana Storniolo, diretora de Ensino da FourC Bilingual Academy e da FourC Learning, alerta que as ações realizadas nas primeiras semanas dentro desse novo ambiente são fundamentais para a adaptação dos estudantes. “É preciso que o estudante se sinta seguro, consiga se posicionar, aprender a aprender e, muitas vezes, buscar ajuda, o apoio do outro, conhecer os recursos que têm e saber como utilizá-los da melhor maneira. Tudo isso perpassa por um processo de adaptação, principalmente quando os alunos iniciam um novo ciclo escolar, por isso é necessária uma atenção redobrada de toda a equipe pedagógica da escola durante esse período”, disse.
Para isso, a diretora explica que algumas instituições de ensino desenvolvem processos e metodologias que servem como norteadoras neste início de volta às aulas. “Na FourC Learning, ensinamos um método que chamamos de seis semanas. Há, inclusive, estudos que certificam que para adquirirmos um hábito, precisamos de 22 dias. Nossa metodologia é retratada no livro The First Six Weeks of School (As seis primeiras semanas de escola), escrito pelas educadoras Paula Denton e Roxann Kriete. Trata-se de um período planejado para integração e adaptação dos alunos, que começa a partir do primeiro dia do ano letivo”, explicou Juliana.
Durante esse período, os alunos são estimulados a refletir sobre o que é necessário para uma aprendizagem de descobertas ao longo do ano. “Trazemos para eles alguns pontos, questionando como é possível criar um ambiente organizado em que todos aprenderão juntos, quais serão os nossos combinados para que isso aconteça, o que preciso explorar nessas seis semanas para conhecer meu ambiente ou o que buscar para ser mais autônomo durante o meu ano. Esses são alguns exemplos que demonstram o trabalho feito com eles para que saibam onde queremos chegar ao final do ciclo”, afirmou Juliana, ressaltando que, trabalhando esses conceitos junto a atividades escolares, é possível visualizar uma evolução clara dos estudantes.
“Os alunos aprendem a se organizar e a organizar o ambiente, trabalhar em grupo, pedir e dar ajuda quando necessário, ter responsabilidades com as tarefas, se planejar e a manter a disciplina para que tenham um ambiente coletivo harmonioso. Assim, eles são estimulados para se tornarem cidadãos conscientes de suas atitudes e dispostos a aprender sempre. Mostramos que agir com autonomia dentro da educação é a habilidade de governar a si mesmo com a consciência das necessidades individuais, mas também das coletivas”, explicou Juliana Storniolo.
Como motivar os estudantes na volta às aulas?
Nessa época de volta às aulas, muitos estudantes ficam ansiosos e com medo de não darem conta dos compromissos escolares, como organização de material e entrega de trabalhos. A coordenadora pedagógica da Qualé – , revista para crianças e jovens distribuída pela Prefeitura de São Paulo –, Cláudia Gabionetta, traz uma orientação básica para professoras e alunos sobre como tornar esse processo menos doloroso. “Saber organizar a vida escolar é fundamental para que os estudantes consigam realizar conquistas em seus processos pessoais de aprendizagem. É preciso que pais e educadores ensinem e acompanhem. Assim, à medida que as crianças e jovens ganham autonomia, encontram soluções próprias de organização”, explicou a pedagog.
Jonas Carvalho, analista pedagógico da Plataforma Amplia, sistema de ensino voltado para a educação básica, traz outras dicas essenciais para ajudar neste momento. Na sua opinião, é importante que os estudantes retomem as atividades escolares com motivação. “A falta de motivação pode afetar o ano letivo inteiro, influenciando diretamente em seu desempenho acadêmico. Um aluno motivado tem maior probabilidade de se envolver ativamente no processo de aprendizagem e de dedicar mais tempo aos estudos. Além disso, a motivação ou a falta dela impacta também no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a autoestima, resiliência, perseverança e autogestão”, explicou Carvalho.
Tendo em vista esses fatores, o pedagogo afirmou que é importante identificar quais os principais pontos que dificultam a adaptação da rotina dos estudantes no retorno às aulas, para assim, traçar estratégias que possam ajudar nesta questão: “Durante as férias, muitas vezes, os alunos adotam rotinas mais flexíveis e menos estruturadas, como a própria hora de dormir, na qual os padrões de sono são alterados. Além disso, se envolvam em atividades de lazer e entretenimento que, se comparadas com as atividades ligadas ao ambiente escolar, podem gerar atrito. Levando esses fatores em consideração, é possível imaginar o sentimento de desconexão que é gerado no aluno com relação ao espaço escolar e aos próprios pares”, disse.
Ainda segundo Jonas, neste contexto, é importante uma reintrodução gradual à rotina, ou seja, iniciar esse processo de retorno com atividades leves, aumentando gradualmente a intensidade ao longo dos primeiros dias. “Vale considerar a construção de um espaço acolhedor, criando uma atmosfera positiva e convidativa. Isso pode ser feito de maneira simples, como decorando a sala de aula ou incentivando atividades que promovam a integração entre estudantes, como jogos, dinâmicas e conversas em grupo. Essas atividades podem ajudar a fortalecer os laços sociais e criar um senso de comunidade entre os pares.”