O 3º Congresso LIV Virtual reuniu nomes nacionais e internacionais para falar sobre questões socioemocionais na educação
O 3º Congresso LIV Virtual, organizado pelo LIV (Laboratório Inteligência de Vida) reuniu importantes nomes do cenário nacional e internacional nos últimos dias 23 e 24 de agosto para compartilhar aprendizados e debater o paralelo entre aprender e sentir.
Foram dois dias com foco total sobre as questões socioemocionais perpassando vários outros temas inerentes ao momento atual da Educação. Considerado o maior evento sobre educação socioemocional da América Latina, o evento teve abertura da gerente pedagógica do LIV, Joana London, que falou sobre como a educação socioemocional se conecta à comunidade escolar.
“Se a escola é composta por várias pessoas, com histórias completamente diferentes, sejam elas alunos, professores, funcionários e famílias, precisamos entender a responsabilidade desse espaço para cuidar das emoções, e por isso esse Congresso é importante. Se a gente já tinha a noção de que falar sobre as emoções era importante, agora, isso fica ainda mais evidente”, disse a especialista, que ainda mostrou como o programa LIV tem atuado para criar materiais que atendem às necessidades socioemocionais de estudantes, educadores e famílias, de modo intencional e organizado, sempre oferecendo diferentes perspectivas.
Como foram as discussões durante o 3º Congresso LIV Virtual
Um dos destaques da edição, a roda de conversa mediada pela jornalista e apresentadora Glória Maria contou com a participação de personalidades como a escritora Conceição Evaristo, o MC e escritor Emicida, a historiadora Lilia Schwarcz, a educadora Lília Melo e o psicólogo Lucas Veiga.
“A gente só aprende realmente aquilo que a gente sente. No mais, ao longo da vida, podem até ter te imposto várias lições, mas você só toma para si aquilo que te interessa, que fala aos seus sentimentos. Quando você pensa no ensino formal, quantas coisas a gente decorou que hoje não sabemos mais?”, disse Conceição Evaristo, com Emicida complementando que “aprender a lidar com as nossas emoções é algo que nos acompanha durante toda a travessia, toda a experiência humana. O que a maturidade nos traz é aprender a sermos cada vez menos controlados por nossas emoções”.
No segundo dia, um bate-papo entre Maria Cecília Brennand, gerente de relacionamento do LIV, e duas coordenadoras pedagógicas do programa: a psicóloga Renata Ishida e a pedagoga Paloma Bastos, mostrou diversos pontos de destaque da integração com o Novo Ensino Médio e o projeto de vida proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Em seguida, a psicóloga e coordenadora pedagógica do LIV, Roberta Desnos, conversou com Gina Vieira, professora da Educação Básica, mestre em linguística e idealizadora do premiado Projeto Mulheres Inspiradoras. O ponto central foi a saúde mental dos professores, especialmente daqueles que estão atuando nas escolas neste momento tão desafiador e ímpar da nossa sociedade.
“Aquele professor, aquela professora profundamente comprometidos se viram fraturados para fazer seu trabalho nesse contexto. E mesmo em um momento de profunda crise humana, um momento histórico, as pessoas ainda esquecem da necessidade do acolhimento”, disse a Gina Vieira.
Já Eduardo Valladares, professor e designer de experiências de aprendizagem, trouxe para sua palestra algumas impressões acerca da cultura da vergonha, à qual somos submetidos desde a infância e da importância da vulnerabilidade pessoal na educação: “Vulnerabilidade é quando a gente entra em um espaço de incerteza, assume riscos e faz uma exposição emocional, todas essas coisas são atos de coragem, são formas de a gente se colocar no mundo e que dizem respeito justamente a enfrentar aquilo que nos dá medo”, disse Valladares.
Convidados internacionais abordaram emoções durante entrevista
O primeiro dia do 3º Congresso LIV Virtual contou com uma entrevista internacional cujo tema central oi uma questão importante para pais e professores: do que sofrem os adolescentes? O psicanalista francês Charles Melman, entrevistado por Caio Lo Bianco, mestre em educação, diretor e idealizador do LIV, ajudou a entender melhor as mudanças da transição para a adolescência.
“O adolescente procura o seu lugar e não acha lugar nenhum. Então, ele se sente sozinho, abandonado e tem a impressão de que ninguém o compreende. Durante a pandemia, o adolescente perdeu a possibilidade de se sustentar a partir de um pertencimento a um grupo, ou seja, jovens que têm um mesmo problema que ele”, explicou o Melman.
Melman é considerado um dos principais seguidores do trabalho de Jacques Lacan e Sigmund Freud. É um dos fundadores da Associação Lacaniana Internacional e foi escolhido pessoalmente por Jacques Lacan para ser um dos dirigentes da École Freudienne de Paris, além de ser autor de diversas obras de referência para a psicanálise.
O encerramento do congresso ficou por conta de uma entrevista inspiradora com o educador e filósofo espanhol Jorge Larrosa e conduzida pela psicóloga e gerente pedagógica do LIV Joana London entrevista. O convidado falou sobre como a educação tem sido transformada nos anos recentes e sobre a necessidade de se pensar em uma escola mais pautada na experiência.
“A educação não está nem para o indivíduo, nem para a sociedade, mas para o mundo, para a transmissão, a comunicação e a renovação do mundo. Freire diz: ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam-se entre si pela mediação do mundo. Eu acho que um dos maiores problemas que a escola está enfrentando neste momento é a falta de interesse das crianças e dos jovens. E, portanto, a tarefa do professor que sempre foi abrir o mundo, fazer o mundo interessante, é uma tarefa cada vez mais difícil” disse Larrosa.